quinta-feira, 30 de maio de 2019

Três Rezas


As mãos coladas
ao corpo,
os olhos verticalizados
e a procissão segue
A criança com cajado
vai tangendo as reses,
a santa imagem não
se incomoda com os pés
queimados pelas velas
O mantra entorpece
os sentidos, as túnicas
caem no rio cheio de pecados
A procissão não para
e o incrédulo clama por um
momento pra rezar
por deus, cristo e maria
Amém
Em plena apneia tento subir ao topo
Mas sinto mãos segurando meus pés
Mal sabem que sou anfíbio
Mutante em busca de ar
Sei que nunca estou só
E a batalha é longa
O mar imenso
Mas vejo algas por toda a parte
Eles também se transformam
Seres de extrema inteligência
E continuam na minha cola
Sei que nunca estarei só
E parto para o combate mental

como um golfinho garantindo a sobrevivência

Bom era quando brincávamos sozinhos
E andávamos mundos afora
Aprisionado entre um metro e setenta e um e sessenta e dois quilos
Choro à espera de minha sentença
Do meu próprio julgamento
Vejo o imenso quintal a minha frente
bom era quando nos alimentávamos de nossa própria energia
e todas as formas era um estado de pura beleza
andando em círculos nesta esfera limitada
continuo deixando pegadas nas mesmas pisadas
plumas pesam como uma toalha encharcada
não ouso mais olhar para trás
sigo meu caminho ou minha inércia,
esperando no ponto, o momento certo do bonde passar